terça-feira, 29 de outubro de 2013

Pensa em algo que te deixe com terror...

...agora pensa que esses dados são os "oficiais", ou seja, aqueles que não tem como ser acobertados, manipulados ou que foram descobertos, entre os que são descobertos...

http://www.estadao.com.br/especiais/as-mortes-com-motivacao-politica-no-pais,214184.htm

Morre mais um pretin na periferia...

Douglas, 17 anos. Estudante. Trabalhador. Jovem. Crime: Podre, periférico


Jovem de 17 anos é assassinado por Policial Militar, na Zona Norte de São Paulo

“Cê viu ontem? Os tiro ouvi de monte! Então,
diz que tem uma pá de sangue no campão.
‘Ih, mano toda mão é sempre a mesma ideia junto:
treta, tiro, sangue, aí, muda de assunto (…)”

Por Douglas Belchior

Douglas Rodrigues podia ser meu aluno. Cursava o terceiro ano do ensino médio e trabalhava em uma lanchonete. Tinha só 17 anos. Nesta segunda (28), passava com o irmão de 13 anos em frente a um bar quando foi abordado por policiais, quando sofreu um disparo certeiro no peito. “Por que o senhor atirou em mim?”, teria perguntado ao PM, segundo a mãe, Rossana de Souza. Douglas foi levado a um hospital da região, mas não resistiu.
Os agentes averiguavam uma suposta denúncia de “perturbação de sossego”, segundo o Boletim de Ocorrência, por conta do som de um carro que tocava funk. “Ele deu o tiro dentro do carro. Não falou nada, não teve nem reação”, disse uma testemunha. Já o policial afirmou que o tiro foi acidental. Ele foi autuado em flagrante por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
A equipe da Coordenação de Juventude, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos da cidade de São Paulo está em contato com a família e informou que oferecerá todo o apoio e orientação.

Quem vai responder a pergunta do Douglas?

Ele perguntou ao estado, ao poder, aos governantes: Por que atirou em mim? Estavam na Vila Medeiros para garantir o “sossego” da comunidade. O que isso tem a ver com tiros, truculência e terror? O tiro foi acidental? De novo? E no peito? Travestidos como acidentes, o fato é que a violência e a morte tem uma estranha predileção etária, étnica, social e geográfica: as vitimas são sempre jovens, negros ou pobres e moradores de periferias.
Queria mudar de assunto, como sugere o verso do Racionais, relembrada acima. Mas a realidade não deixa! Uma das principais reivindicações dos movimentos populares hoje no Brasil é justamente a desmilitarização das polícias e a consequente extinção da PM. Está provado que, em nome do Estado e dos interesses privados que o dirige, a PM existe para reprimir e matar negros e pobres.
Políticas públicas, por mais bem intencionadas que possam parecer – como é o caso do Juventude Viva, não darão conta do problema da violência urbana se não tocarem a dimensão da política militar genocida vigente. Como já descrevi num outro momento, O assassino não pergunta ao pretinho se é assistido pelo bolsa família; se está matriculado no curso técnico; se frequenta o projeto social da Ong do bairro; se foi cabo eleitoral do deputado eleito pelo distrito; se está inscrito para a prova do Enem; ou se já marcou a entrevista no balcão de empregos da central sindical.” Exatamente como aconteceu com Douglas, o assassino cumpre, fardado ou a paisana, sua tarefa: ele mata! E depois faz uso dos instrumentos legais da carnificina, característicos da hipocrisia democrática que vivemos e alegaresistência ou ação culposa, sempre “sem a intenção de matar”.
Aliás, esse é o argumento jurídico do Estado Brasileiro para negar o genocídio de sua juventude: “Não há a intenção”, apesar dos fatos. Mas o que importa ao morto ou a família do morto se houve ou não a intenção de matar? O que importa a intenção, se os velórios e a dor são irreversíveis?
Transfiro a pergunta de Douglas para vocês, Governador Alckmin e Presidenta Dilma, que preferiram o conforto do Palácio dos Bandeirantes a participação no lançamento do Plano Juventude Viva no último dia 25, no Campo Limpo, quando poderiam ouvir de nós as angustias e talvez – a partir de uma ação concreta, caro governador, evitar mais um assassinato.
Por que o policial atirou? Por que sempre atiram? A tropa obedece, o comando treina, a direção ordena e os chefes de estado se responsabilizam. Então respondam Alckmin e Dilma, porque Douglas foi assassinado? E até quando outros serão? E vocês, que se solidarizaram à PM imediatamente após a agressão sofrida pelo Coronel Rossi, o que tem a dizer agora?
Chega de hipocrisia. A PM mata negros e pobres todos os dias!

http://negrobelchior.cartacapital.com.br/2013/10/28/por-que-o-senhor-atirou-em-mim/

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Fomos doutrinados para sermos cães de guarda da injustiça social

Só uma breve colocação aqui, normalmente não colocaria esse texto do Leonardo Sakamoto, não é lá dos meus autores favorito - em termos de prática e teoria - mas ele sintetiza e expressa bem muitos dos dilemas de quem tenta todo dia romper com o status quo...e novamente, sabemos que uma das forças que nos puxa, (além do reacionarismo originário burguês, de quem não quer mudança porque do jeito que está, tá tudo OK), é a mediocridade, o atraso na consciência de classe, enfim...no fundo, o desafio que deve ser vencido por quem quer transformar essa realidade. Bom, lá vai...

Convivo diariamente com comentários preconceituosos, bizarros, acéfalos, medíocres, medonhos, machistas, xenófobos, racistas, inacreditavelmente postados para todo mundo ver. Não tenho coragem de fazer cocô de porta aberta, mas parece que muita gente tem. E depois compartilha a foto. E se dá “like”.
“Ah, mas e a liberdade de expressão?”. Ah, vai passear! A orientação para bloqueio de comentários neste blog é defenestrar os que forem ofensivos a alguém e incidirem em algum crime de ódio. Fora isso, o blog é bastante tolerante. Isso não significa, porém, que faça cara de paisagem diante de besteiras.
De todas as idiotices, uma das que me deixam possesso é o pensamento raso “se me estrepei a vida inteira, todo mundo tem que se estrepar também”. Ela representa o melhor da filosofia “Para o Buraco, Eu Não Vou Sozinho”, muito conhecida desde que o primeiro hominídeo andou de pé, mas que vem se aprofundando em sociedade individualistas.
E, é claro, temos variações:
“Se tive que trabalhar desde cedo e, hoje, sou uma pessoa com bom caráter, também acho que criança deveria trabalhar para não cair na vagabundagem.”
“Trabalhei a vida inteira e nunca tive uma casa própria. Agora, vem um bando de desocupado e invade um terreno para chamar de seu? A polícia tem que descer o cacete nesse povo para aprender que patrimônio só surge do suor e do trabalho.”
Fantástico! Nem as pessoas que usam crianças ou os donos de terrenos improdutivos seriam tão virulentos assim. Nada como uma sociedade doutrinada para servir de cão de guarda, não?
Eu prefiro este formato: “Se eu sou um covarde e não tenho coragem de lutar pelo que acredito ser uma vida digna, permanecendo na ignorância (que é um lugar quentinho) e preferindo ruminar silenciosamente entre os dentes a minha infelicidade, quero que o mundo faça o mesmo”.
Sofrer não é o único caminho para a salvação e, até me mostrarem que há algo depois que o coração para de bater, não estamos penando neste mundo para acumular bônus para gastar no Hopi Hari do Paraíso. Quem pensa assim, não entende nem desenhando que moradia, alimentação, educação, saúde são direitos fundamentais. Nessa hora, um sujeito assim responde: “e esses vagabundos pagam os impostos para poder ter direitos fundamentais?”
Esses mesmos repetem bobagens como “a pessoa é pobre porque não estudou ou trabalhou”. Pois acham que basta trabalhar e estudar para ter uma boa vida e que um emprego decente e uma educação de qualidade é alcançável a todos e todas desde o berço. E todas as pessoas ricas e de posses conquistaram o que têm de forma honesta. Acham que todas as leis foram criadas para garantir Justiça e que só temos um problema de aplicação. Não se perguntam quem fez as leis, o porquê de terem sido feitas ou questiona as aplica.
Quando vejo milhares de pessoas ocuparem um terreno ocioso, não consigo deixar de ficar feliz porque aquela terra, finalmente, poderá ter uma função social. Com exceção do dono do terreno, de outros donos de terrenos ociosos e de seus representantes políticos, legais e econômicos, ou das pessoas que pertençam às mesmas classes sociais desse pessoal já citado ou é por eles pagos para defender seus interesses, é difícil entender a razão de ter gente que sai atacando uma ocupação de sem-teto como essa, fazendo o papel de soldadinho não-remunerado.
“Por que se acham melhores do que eu?”, tive que ouvir de uma mulher dia desses contrária a uma ocupação. Não é uma questão de melhor ou pior. E sim de aceitar bovinamente um destino horrível em uma sociedade que, apenas teoricamente, não é de castas. Ou lutar para sair dessa condição.
Valores passados cuidadosamente e ao longo do tempo vão colando em nossos ossos e nos transformando em guerreiros da causa alheia. Não ganhamos nada com isso, pelo contrário, perdemos. Como cidadãos, como seres humanos. Mas preferimos defender o não uso bizarro de uma propriedade privada do que a dignidade do ser humano. Tudo em nome de uma concepção equivocada de Justiça.
A polícia não é a única responsável por manter a ordem do povo. O povo, devidamente treinado por instituições como escolas, igrejas, trabalho e a própria mídia, garante o seu próprio controle e o monitoramento no dia a dia. Quem sai da linha do que é visto como o padrão e o normal, leva na cabeça. Quem resolve se insurgir contra injustiças e foge do comportamento aceitável vira um pária. Sem essa vigilância invisível feita pelos próprios controlados, é impossível um grupo se manter no poder por tanto tempo e de forma aparentemente pacífica como ocorre por aqui.
Adoraria discordar de Oscar Wilde, como podem imaginar. Mas, nesse caso, ele cai como uma luva: “Há três tipos de déspotas. Aquele que tiraniza o corpo, aquele que tiraniza a alma e o que tiraniza, ao mesmo tempo, o corpo e a alma. O primeiro é chamado de príncipe, o segundo de papa e o terceiro de povo”.
Não sou um homem de fé. Mas sei que boa parte desses que escrevem abobrinhas se dizem ser. Contudo, o personagem histórico Jesus seria hoje sem-teto, sem-terra, negro, mulher. Seria gay. Não viveria nas igrejas dos Jardins, muito menos como um yuppie consumista ou um vilamadalenizado. Aliás, chutaria as igrejas de hoje como o homem de barba (Jesus, não Marx) chutou as barracas do templo. E seria humilhado, xingado, surrado, queimado, alfinetado, desterrado e explodido por pessoas que hoje falam essas frases acima e se dizem “homens e mulheres de bem”. Que não conseguem entender o que é solidariedade. Muito menos dignidade, porque isso nunca lhes faltou.
De verdade, não sei de quem tenho mais medo. Da polícia ou desse povo. Porque sabemos o que a polícia faz. Mas não imaginamos até onde esse povo pode ir.

O original tá logo aqui:
http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2013/09/10/fomos-doutrinados-para-sermos-caes-de-guarda-da-injustica-social/

sexta-feira, 5 de abril de 2013

"A VIDA É LOKA"


Esses dias tinha um moleque na quebrada com uma arma de quase 400 páginas na mão.
Uma minas cheirando prosa, uns acendendo poesia.
Um cara sem nike no pé indo para o trampo com o zóio vermelho de tanto ler no ônibus.
Uns tiozinho e umas tiazinha no sarau enchendo a cara de poemas.
 Depois saíram vomitando versos na calçada.
O tráfico de informação não para, uns estão saindo algemado aos diplomas depois de experimentarem umas pílulas de sabedoria. As famílias, coniventes, estão em êxtase.
Esses vidas mansas estão esvaziando as cadeias.
A Vida não é mesmo loka?

Sérgio Vaz

sexta-feira, 1 de março de 2013

Poesia em prosa...: O CABELO DE ILLARI


(Vou começar a preservar esse costume de ficar postando palavras bonitas e mais palavras bonitas por aqui, tipo um arquivo de beleza, hehe - texto que peguei da Lissa)

Olho para você e seu pequeno rosto tem uma moldura de cabelo crespo que combina maravilhosamente bem com o seu sorriso.

Ontem você o tinha trançado em linhas retas que terminavam por se juntar em suas pontas ao final da sua nuca.

Esse seu cabelo combina com seus doces olhos quando fitas de cores tão entrelaçadas no meio de suas tranças, resultando em belos cabelos coloridos.
Às vezes, quando são muitas suas tranças, elas parecem dançar ao som de suas corridas e de seus pulos e de suas gargalhadas. É um dança que só o seu perfeito cabelo é capaz de criar.

Outras vezes, enfeitado com contas de cores, se assemelha a uma dança ancestral que se move com jogos, impulsos, voltas e piruetas que contam histórias no compasso de suas carreiras. São cores amarradas ao seu belo cabelo, que lembram carnavais, cortejos, rituais, lendas, sincretismo e avós. Lembram histórias e religiões de muitos povos como o meu.

Quando solto, me parece uma densa selva cheia de palmeiras ou um frondoso baobá milenar, que, seguro pela terra, sustenta sua copa repleta de ramos, que aponta para o céu e não tem medo do sol. Imagino então um par de mãos negras, sob essa árvore, que é sábia, batendo tambores que anunciam boas-novas para todas as meninas que, como você, carregam com orgulho esse cabelo crespo extraordinário.

Eu vou lhe ensinar, filha minha, assim como um dia aprendi com minha mãe e ela de sua avó e sua avó de outra mãe e de outra avó, a construir caminhos e perfeitas veredas em sua cabeça.

Vou lhe ensinar, filha das minhas entranhas, a desenhar obras de arte, a delinear imagens, a tecer um mundo brilhante e cheio de cores nas tranças de sua cabeça. E um dia quando aprenderes a pentear seu próprio cabelo e os cabelos de suas filhas vamos então construir um novo mapa. Construiremos um mundo novo na sua cabeça, um mundo que permita a todas as meninas negras como você levar com orgulho a beleza de nossos cabelos.

Prometo-lhe hoje, minha pequena, que seus penteados e os penteados de suas filhas encantarão o mundo e sua figura grandiosa não terá então que usar disfarces para brilhar.

(Lissa/Marias Baderna)