sexta-feira, 1 de março de 2013

Poesia em prosa...: O CABELO DE ILLARI


(Vou começar a preservar esse costume de ficar postando palavras bonitas e mais palavras bonitas por aqui, tipo um arquivo de beleza, hehe - texto que peguei da Lissa)

Olho para você e seu pequeno rosto tem uma moldura de cabelo crespo que combina maravilhosamente bem com o seu sorriso.

Ontem você o tinha trançado em linhas retas que terminavam por se juntar em suas pontas ao final da sua nuca.

Esse seu cabelo combina com seus doces olhos quando fitas de cores tão entrelaçadas no meio de suas tranças, resultando em belos cabelos coloridos.
Às vezes, quando são muitas suas tranças, elas parecem dançar ao som de suas corridas e de seus pulos e de suas gargalhadas. É um dança que só o seu perfeito cabelo é capaz de criar.

Outras vezes, enfeitado com contas de cores, se assemelha a uma dança ancestral que se move com jogos, impulsos, voltas e piruetas que contam histórias no compasso de suas carreiras. São cores amarradas ao seu belo cabelo, que lembram carnavais, cortejos, rituais, lendas, sincretismo e avós. Lembram histórias e religiões de muitos povos como o meu.

Quando solto, me parece uma densa selva cheia de palmeiras ou um frondoso baobá milenar, que, seguro pela terra, sustenta sua copa repleta de ramos, que aponta para o céu e não tem medo do sol. Imagino então um par de mãos negras, sob essa árvore, que é sábia, batendo tambores que anunciam boas-novas para todas as meninas que, como você, carregam com orgulho esse cabelo crespo extraordinário.

Eu vou lhe ensinar, filha minha, assim como um dia aprendi com minha mãe e ela de sua avó e sua avó de outra mãe e de outra avó, a construir caminhos e perfeitas veredas em sua cabeça.

Vou lhe ensinar, filha das minhas entranhas, a desenhar obras de arte, a delinear imagens, a tecer um mundo brilhante e cheio de cores nas tranças de sua cabeça. E um dia quando aprenderes a pentear seu próprio cabelo e os cabelos de suas filhas vamos então construir um novo mapa. Construiremos um mundo novo na sua cabeça, um mundo que permita a todas as meninas negras como você levar com orgulho a beleza de nossos cabelos.

Prometo-lhe hoje, minha pequena, que seus penteados e os penteados de suas filhas encantarão o mundo e sua figura grandiosa não terá então que usar disfarces para brilhar.

(Lissa/Marias Baderna)