do agora, e veio a
"(...)Um
trapo, magra, as faces comidas, os ossos furando a pele, a tosse constante. Por
que diabo truxera a criança e largara ali, em mãos do negro, se não fosse a
certeza de estar condenada? Porque, segundo as informações da vizinhança, de
Benedita podia-se dizer quanto se quisesse: leviana, inconstante, mentirosa,
bêbada, cínica - só de uma coisa não podia ela ser acusada: de mãe desnaturada
tão madrasta a ponto de abandonar o filho com um ano incompleto. Ah!, se havia
mãe boa e devotada, era igual a Benedita, melhor não. Desvelada, de um amor até
exagerado, de um devotamento sem medidas. Quando o pobrezinho tivera uma
infecção tola de intestino, Benedita passara noites e noites sem dormir, a
chorar e a velar o sono do filho doente, um sobressalto a renovar-se a cada
catarro, a cada dor de barriga(...0. Se viera entregar o fiseparar-se dele
- concluíam uns e outros -, era porque sentia próximo o seu fim, a febre não
dando mais nem uma folga, o gosto de sangue na garganta, cuspindo vermelho. E
como dissera a uma conhecida, na afobação daquela rápida visita, do seu desejo
de não morrer ser rever os campos onde nascera, comcluíam por seu falecimento
em Alagoas, nas redondezas de um burgo chamado Pilar(...)"
(...)Nesse
caso, onde deixar o menino, senão em casa do pai? Uma coisa ela sabia: Massu era bom,
não ia largar o filho na necessidade.
Foi mesmo nessa hora, quando Benedita pronunciava tais palavras, que Massu
escolheu chegar. vinha trazer uns trocados para a avó comprar mantimentos.
Ouviu a falação de Benedita, espiou o menino engatinhando pela casa, pondo-se
de pé e caindo. Numa dessas o corneta olhou para Massu e riu. O negro
estremeceu: Benedita por onde andara para se fazer tão magra e feia, tão
acabada, uns bracinhos de esqueleto? Mas o menino era robusto e forte, cada
braço e cada perna, seu filho. Se fosse um pouco menos branco, de cabelo mais
encaracolado, teria sido melhor. mas, no fundo, não fazia diferença.
- Saiu meu avô materno que era branco de olho azul e falava umas línguas da disgrama.
Saiu branco como podia ter saído preto, foi meu sangue que valeu. Mas o corpo é
teu, direitinho. E o jeito de rir...
O jeito de rir, não tinha nada mais belo. O negro põs-se de cócoras no chão, o
menino veio e se levantou entre suas pernas. E disse "papai" e
repetiu. A gargalhada de Massu ressoou, estremecendo as paredes. Então Benedita
sorriu e foi-se embora descansada As lágrimas seriam apenas de saudade, não de
temor e desespero.
Quanto ao resto, jamais se viu pai e filho tão unidos, tão amigos. Nas costas
do negro, o menino cavalga pela sala. Riem juntos os dois e a avó
também(...)" - O compadre de Ogum, Jorge Amado.
Pois é, muito doido isso sabe. eu passei muito, e passo muito tempo, criando idealizações nas pessoas que eu mais admiro sabe, quase colocando-as em uma redoma, pois são o meu sonho, meu Eu também. o Eu que queria ser. quando vejo essas pessoas, superinteligente, bonitão e sociável, a outra super sonhadora, admiradora do verde, raul e poesia, outra super punk e tal, critico e sensato, mas não menos sonhador, outra super fofa, sonhadora, outra irmã da amigona, super preocupada com o mundão também, curiosa e à procura (do que exatamente, não sei se ela sabe também), outra que ama o samba, a galera, matemática, outra superalegre, preocupada, determinada, outra super porra louca, alternativo, extrovertido, engraçadão, inteligente pra caraca, irmão de infância, outra, bem meiguinha, bonita e politizada, outra, uma das poucas, socialistaas mesmo, assumidona, organizada num mesmo partido político e tal...bom, idealizo essas pessoas porque queria ser tudo isso, tudo isso. mas na prática é mesmo meio difícil conciliar tudo e a militância, que transforme e atropele esse marasmo atual da sociedade. é muita ansiedade, querer mudar tudo logo, acabar com esse sofrimento, para que as pessoas possam só dançar o seu samba e sorrir. e tudo mais. mas não dá, as coisas não são bem assim, e agente vai se perdendo na luta, nos anos, no tempo, mas as mudanças estão sempre na iminência de vir, e virão - não posso ter outra esperança, que sejam os mais sombrios dos dias, há de acabar - quero encontrar também uma fórmula pra isso, pra ser tudo isso, e estar no auge da minha formação, ser a vanguarda duma vanguarda socialista, não iluminada, mas com base sólida no companheirismo, no amor ao outro - qualquer que seja.
Vai ser a chave quando encontrarmos isso, essa "liga". apesar de eu ficar sempre individualizando isso, como se eu fosse capaz de conseguir isso sozinho, é só uma forma de manter essa redoma nas pessoas que amo, mas isso vai ser conjunto, e ai, quando conseguirmos...aaaaaaaaah quando nós conseguirmos, ninguém mais vai segurar agente, e ai, ai sim, vamos formar um exército que convença e atraia todos os melhores dos guerreiros, que cada um pode ser...mas não seremos todos, dada a sociedade que vivemos, mas na luta vamos conseguindo o apoio e o cerrar de ombros nas mesmas fileiras! ^^' tem muita gente lutando ai, cada um na sua luta..as lutas são várias, no cotidiano, nos espaços políticos de poder tanto faz, mas o objetivo comum, tem que ser, pode ser e, vai ser só um....acabar com esse sistema, radicalmente, que não sobre um resquício sequer de dor e sofrimento... ;)
saudações revolucionárias baby's!!
PS: quanto ao trecho do livro, só pra falar que é mais um exemplo de que as pessoas são dignas, como diz uma outra musica dos Racionais mc's: "tenha fé, porque até no lixão nasce flor!"