domingo, 12 de agosto de 2012

Dialética e o corte classista da Mediocridade

Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão.” (Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.)

Desse tempo todo de ausência aqui neste espaço de reflexão nesta minha pequena caixa de pensamentos, nesta Kiva de resistência de um mundo grosseiro, insensível e dinâmico. Neste inadmirável mundo novo não dá pra para de pensar em mudar, mas que também não dá pra deixar de fazer, sem uma sensação de que as coisas poderiam ter se desenrolado de uma forma diferente caso tivéssemos feito algo. Ou o contrário, que se tivéssemos feito algo, de nada adiantaria também. É daqui que queria partir. Repensar o que foi dito, tentar me redimir. Vida é isso, reflexão sempre.

Num post anterior falei do fenômeno da mediocridade, como isso é desestimulante paras as pessoas que tem esperança em construir alguma coisa que seja mais progressiva do que está dado, seja aonde for, em uma espaço escolar, em uma turma de colegas, em um time de futebol, enfim, nos dias de hoje é difícil encontrar um espaço aonde pessoas não tenham esse sentimento de descrença no outro e desapego humano que fortalecem o egoísmo e o individualismo prementes e inerentes para um eficiente funcionamento do (deficiente) sistema capitalista. Sistema deficiente do ponto de vista humano, sistema que desumaniza, que escraviza parcela de sua população e aliena outro tanto, também escravo - do tempo, do trabalho, do dinheiro, do (indistinguível diferença do)gênero, da (pseudo superioridade da)cor, do consumo, da mídia - e como senhores invisíveis, os protegidos da polícia, afinal, polícia para quem?

A culpa é de quem então? Minha? Dos "medíocres? Medíocre seria tira qualquer uma dessas conclusões. E é aqui que queria repensar um dos sentidos da palavra. no dicionário de medíocre, que é sentido de "insuficiente". Acho que seria esse o sentido primordial, poque qualquer coisa que vá ser definida de medíocre é uma insuficiência, e a partir daí adquire outros sentidos dado a função social da palavra - se é para insultar ou classificar. Porque medíocre geralmente é usado no sentido pejorativo, mas também pode ser um meio de estudo da realidade, sem a intenção de agredir moralmente alguém. Mas daí a pergunta pra saber então de quem é a culpa? do que?  de ser medíocre, no caso. Logo de cara eu queia fala, que é o sistema, uai, tudo bem, o cara bem que podia ter a cabeça mais aberta, se ligar  na mentiras que são contadas o tempo todo pra ele agir como um idiota, porque afinal, o que é que ele pode fazer pelos outros?  o que é que adiantaria ele fazer alguma coisa pelos outros? O tempo todo nos é ensinado que devemos ser nos preocupar conosco mesmo, e não em se juntar com os outros pra mudar as coisas(o sistema, o mundo, a cidade, a escola) quando estão ruins, porque não dá, é impossível. Uai, o melhor a se fazer é cada um cuidar do seu. Afinal, como é que eu vou interferir na liberdade do outro? Nossa liberdade só começa e acaba quando não interfere na do outro. Isso tudo é besteira, numa sociedade humana, é impossível a ação de um não interferir na vida dos outros, de todos os outros. É a simples reprodução da ideologia da classe dominante, e setores dos dominados que possuem privilégios concedidos por esta classe detentora dos grandes meios de produção, "privilégios" como liberdade econômica e de poder.

Por que se dariam ao trabalho de querer dominar os outros?  - insinuam os dominantes - já que são eles quem sustentam o discurso da liberdade (fraternidade e igualdade)

Falsa liberdade. Defendem o liberalismo do livre mercado das oportunidades desiguais. Igualdade de pessoas sócio-economicamente desiguais. Fraternidade mediada pelas leis do Estado político-militar, ai daqueles que ousem protestar!! E essa ideologia domina, os grandes não querem perder seu direito ao poder, seu direito a propriedade - propriedade do direito dos outros - às terras, ao lazer, à cultura, ao esporte, à saúde, à educação, ao trabalho ou qualquer outro direito humano.

E os medíocres com isso?  Medíocres então são os que estão insuficientemente convencidos de que isso pode ser mudado, pois se a sociedade não foi(será?) igualitária desde que se conhece por sociedade, como é que eu, individuo, posso mudar isso? E  esse cara ainda cai no jogo de desacreditar, humilhar, duvidar e não ter a mínima sensibilidade com aqueles que tentam se libertar das correntes, seja na sua atuação profissional, convicção pessoal, ou política, nos mais diversos espaços da vida, íntimos ou não. Por isso o corte de classe, há o medíocre dominante,  que explora e tem benefícios ao desacreditar daqueles que lutam pela liberdade e mudança. E aquele outro medíocre, o explorado, que vê como única alternativa a sua preservação e o enaltecimento das suas conquistas pessoais, individualista, egoísta - desacredita dos seus irmãos nos coletivos e organizações que lutam por uma outra realidade.

Meu erro, foi culpabilizar aquele companheiro medíocre, como se fosse o resultado de suas próprias forças racionais, não como um produto social também. Não que o indivíduo não tenha autonomia para libertar a sua consciência e lutar por algo diferente, mas se vivecemos numa sociedade que pelos mais diversos fatores políticos, econômicos, culturais, sociais, históricos e outros que estimulassem o cara a isso, não seria preciso lutar pra se libertar, e para libertar os outros. A luta não é só nossa. É preciso deixar claro que esses, politicamente podem cumprir e vem cumprindo um papel contra-revolucionário, por isso não se pode ficar quieto diante de suas idéias e ações desumanistas, deve-se combate-las com afinco, radicalismo consequente - pois nessa compaixão é que podem nascer também os seguidores de seitas fascistas, organizadas ou não, em coro com todos os agentes ideológicos do Estado. Por isso...

...lutar é preciso. Lutar pelas causas libertárias, igualitárias, humanitárias e ecológicas compas! Sempre...


O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros. (...) É nesse sentido também que a dialogicidade verdadeira, em que os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos. É preciso deixar claro que a transgressão da eticidade jamais pode ser vista como virtude, mas como ruptura com a decência. O que quero dizer é o seguinte: que alguém se torne machista, racista, classista, sei lá o quê, mas se assuma como transgressor da natureza humana. Não me venha com justificativas genéticas, sociológicas ou históricas ou filosóficas para explicar a superioridade da branquitude sobre a negritude, dos homens sobre as mulheres, dos patrões sobre os empregados. Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um dever por mais que se reconheça a força dos condicionamentos a enfrentar." ( Paulo Freire - Pedagogia da Autonomia, 1996).

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